O GLOBAL NEWS decidiu fazer também a comparação entre o serviço de táxi e o serviço da Uber. Mais que comparar, decidimos analizá-los. O que quer dizer que não nos limitamos a entrar nos veículos e fazer o mesmo trajeto do ponto A para o ponto B. Decidimos também ir mais longe e verificar as exigências que os dois serviços têm de cumprir.
Vamos primeiro falar das viagens com ambos. Fizemos o mesmo trajeto, num domingo, dia em que o táxi cobra um preço mais elevado quando comparado com o preço de semana. Solicitamos um táxi pela aplicação de uma conhecida central de táxis da cidade do Porto. Demorou cerca de 8 minutos a chegar até mim. Solicitei o serviço da Uber, pela respetiva aplicação. Tempo estimado 7 minutos, mas demorou 8 a chegar.
Vamos às viaturas. O táxi era um Skoda Superb, de abril deste ano. Antes de entrar, apareceu-me um aviso no vidro da porta, “Wi-fi free”. Entro no carro, completamente limpo, tenho a tabela de preços bem visível e recebo um “boa tarde” do motorista na casa dos 35 anos, de blazer, camisa e calça clássica. Solicitei que me levasse para o destino pretendido. Perguntou-me se tinha preferência pelo caminho. Disse que não e o motorista iniciou a viagem. Entretanto, coloco a password no meu smartphone para testar a internet. E não é que funcionou durante todo o percurso?
O veículo do serviço da Uber foi um Toyota Auris, de abril de 2016, mas alugado pelo condutor. “Para experimentar o carro, a ver se compensa nos consumos”, desabafa o motorista. Ora neste aspeto, o taxista não pode fazer isto. Não pode alugar um veículo por um determinado período de tempo, mesmo que a viatura tenha que ir para o mecânico. Não pode ser substituída. Regressemos à Uber. Entrei na viatura, o motorista de camisa e calça clássica pergunta-me por onde quero ir. Digo-lhe para escolher o percurso, que foi diferente do táxi – mais longo. A viatura não tinha internet.
Durante a viagem, o taxista falou comigo apenas quando eu falava. Puxei conversa sobre o carro. Disse-me que a maior parte dos taxistas apostam na marca Skoda, por ter qualidade e ser mais barata que a Mercedes. Fiz referência à internet na viatura. O motorista sublinhou que já muitos táxis disponibilizam internet nos carros. “É ilimitada, enquanto durar a viagem, esteja à vontade”!
O motorista do serviço da Uber, perguntou-me se pretendia ar condicionado e lá foi falando, mesmo sem eu dizer nada. Disse-me que não foi fácil entrar no serviço da Uber mas que, apesar do pouco tempo de serviço, estava a gostar, mesmo com a polémica com os taxistas à mistura.
Chegados ao destino, a surpresa veio na conta. O táxi cobrou 9,70€, já com a taxa adicional por ser domingo. O serviço da Uber cobrou-me 10,02€, valor pago por cartão de crédito. Já o pagamento do serviço de táxi foi com cartão Multibanco. Solicitei o terminal, já que na porta tinha a indicação desse serviço. “Em que nome pretende a fatura”, pergunta-me o Sr. Aníbal Reis, motorista do táxi que fez o serviço – segundo o Certificado de Aptidão Profissional que estava visivelmente afixado no para-brisas da viatura.
Obviamente que a conclusão sobre estas duas viagens vou deixá-la ao leitor, mas deixe-me que lhe diga que no final, não senti que fui melhor servido pela Uber, antes pelo contrário.
O que é importante sublinhar é as burocracias e as taxas que estes dois serviços têm de pagar para nos fazerem o serviço. Eu podia escrever mais alguns parágrafos de decretos de lei extensos sobre essa matéria, mas não o vou fazer. Vou reduzir tudo isso a alguns pontos importantes. Segundo um especialista em transportes contactado pelo Global News, o serviço de táxi tem várias regras e pormenores que fazem com que o consumidor esteja o mais protegido possível. Quais? Os táxis são obrigados a usar taxímetro, um aparelho que é aferido anualmente por entidades competentes e a praticar preços legalmente fixados. A Uber cobra por intermédio de uma aplicação, da qual não vemos o contador a avançar e pratica preços unilateralmente fixados por eles. Mais, tem uma taxa dinâmica que pode multiplicar até quatro vezes mais o valor final, taxa essa que depende da procura. O táxi não tem. Experimente chamar os dois serviços na noite de S. João e compare valores.
O serviço de táxi é obrigado a ter um seguro de responsabilidade civil, de valor mínimo de 50 milhões de euros, para efeito de transporte público de passageiros. As outras viaturas deverão ter um seguro semelhante a qualquer outra viatura particular.
O condutor do táxi é obrigado a possuir o CAP (Certificado de Aptidão Profissional) que tem um custo de aproximadamente 500 euros e obriga a uma formação de 125 horas (atualmente), e renovável obrigatoriamente de 5 em 5 anos. Os motoristas ao serviço da Uber não têm qualquer obrigação a este nível.
Se o táxi tiver uma avaria ou um acidente e for obrigado a ir para o mecânico, o condutor não pode alugar ou trocar de viatura. Tem de esperar que a sua seja reparada para recomeçar o trabalho. As viaturas ao serviço da Uber até podem ser alugadas.
O fator concorrência já existe e sempre existiu nos táxis em Portugal, pois na verdade esta atividade é composta por milhares de pequenas empresas que concorrem entre si, assim como diversas centrais de táxis espalhadas pelo país e várias aplicações disponíveis online. O utilizador pode sempre escolher as melhores viaturas e os melhores motoristas tal como em qualquer outro serviço.
Em 2011, o serviço de táxi em Portugal foi considerado pela FIA – Federação Internacional do Automóvel, como um dos melhores a nível Europeu, contrariamente ao que se tem afirmado por aí nos últimos meses.
Ainda de acordo com o parecer do especialista contactado pelo GLOBAL NEWS, “facilmente se percebe que este serviço, como transporte público que é, deve ser eficazmente regulado, quer relativamente a regras, quer no que diz respeito à fixação de contingentes municipais, pois estas viaturas necessitam de locais próprios onde se encontram à disposição das populações (praças de táxis), circulam por vias exclusivas a transportes públicos, entre outros fatores que inviabilizam uma possível desregulamentação deste género de serviço.
Importa salientar que o serviço prestado pela Uber, mais não é que um serviço de táxi travestido de transporte privado e nesse sentido creio que a Uber, nos moldes em que se encontra a laborar atualmente, não reúne as mais elementares condições para uma possível regulamentação da atividade, que só poderá ser exercida exclusivamente pelas empresas licenciadas para o serviço de táxi, pelos motivos já enumerados.
Contudo, devo dizer que o principal problema que se coloca nesta questão, não é tanto a Uber enquanto aplicação digital, mas sim os parceiros com quem a Uber se associa para efetuar os serviços de transporte propriamente ditos.
Na minha opinião, a única forma de uma empresa como a Uber poder laborar legalmente em Portugal, seria associando-se ás empresas legalizadas de transporte em táxi existentes e trabalhar exclusivamente com estas, tal como acontece na Alemanha.”
A Uber é capaz de fazer este serviço mais barato? Claro que é, o que não foi o caso do nosso teste. Esta questão táxis / Uber é mais ampla do que possamos pensar. Do lado do serviço dos táxis, um transporte público, regulamentado, estamos a falar de centenas de empresas que pagaram avultadas somas para obterem as licenças. Do lado da Uber, basicamente basta ter uma viatura e ser coletado. Não precisa de CAP, nem de aferições. Não precisa de qualquer tipo de formação. Fazendo estas comparações, haverá justiça entre serviços?